Bem-vindos, Humanos Divinos!
Para estrear o blog nada mais justo que uma história sobre Ahmyo, divirtam-se!
Eu estava passando alguns dias na casa da minha irmã no sul de Porto Alegre.
Era uma manhã de Sol e as caturritas cantavam lindamente no topo das árvores de Eucalipto. Da sacada de casa eu podia escutá-las e regozijar-me em seu canto. Esse regozijo motivou-me a ir em direção à elas.
A caturrita é um dos meus pássaros favoritos, pela sua cor verde que se destaca no céu azul e pelo seu canto que parece incessante durante todo o dia.
Caminhei alguns metros pelas ruas da zona rural da cidade, chegando até o grande terreno onde estão plantados os Eucaliptos. É uma propriedade privada usada para criação de vacas, protegida apenas por uma velha cerca de arame e circundada por algumas casas. Muitas pessoas atravessam essa propriedade pois ela conecta duas partes do bairro.
Diversas vezes eu vi pessoas passarem facilmente entre dois pedaços de arame na velha cerca e depois seguirem caminhando tranquilas, enquanto eu ficava a admirar os belos ninhos dos pássaros no topo das árvores.
Mas esse dia tinha algo especial.
Nesse dia eu não queria apenas observar os pássaros, as árvores e a linda vista do morro. Nesse dia eu queria explorar um pouco mais além daquilo que eu já conhecia.
De uma maneira muito sincrônica algo inusitado aconteceu, enquanto eu pensava em atravessar a cerca, surgiu ao longe a presença de um rapaz. Mas não um rapaz comum, seus cabelos estavam tingidos de azul, ele tinha a pele clara e sua mochila era de um tom de azul um pouco mais escuro que o dos cabelos. Para finalizar, seus tênis completavam o visual em cores azul-neon e cor-de-rosa.
Ele caminhava sobre um enorme tronco de árvore que estava caído a alguns metros da cerca, para dentro do terreno.
Eu não pude tirar meus olhos dele, pensando de onde havia saído este ser tão colorido, em meio a essa zona da cidade que apesar da natureza pode ser tão cinza. Pensei também que ele estava a segundos de fazer aquilo que eu estava pensando em fazer - ultrapassar a cerca.
E assim foi, ele desceu do grande tronco, caminhou um pouco até a cerca e depois de cruzar a mochila pro outro lado, passou seu magro corpo entre os arames e seguiu o seu rumo.
Meus olhos se encheram de alegria! Era tudo o que eu precisava: um exemplo vivo!
Agora eu não poderia mais voltar para casa sem fazer o que estava em minha mente. Apenas esperei a figura do rapaz desparecer de vista e *plim* com um passe de mágica eu estava dentro do terreno.
A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi “isso é errado, eu não deveria estar aqui”.
Lembrei de uma experiência anterior em que eu estava com alguns amigos numa caminhada por uma área privada e fomos advertidos por um homem armado e à cavalo, pensei que não seria nada divertido se aquilo acontecesse outra vez.
Geralmente quando estou pisando em terreno desconhecido as experiências anteriores são as primeiras que aparecem para mim, mostrando-me uma mentira de como fiz “coisas erradas” no passado e estou a repetir os erros, tentando de uma certa forma “proteger-me” de uma decepção, dizendo-me que é melhor nem tentar, melhor não seguir em frente.
Mas havia em mim uma sabedoria interior, uma sabedoria que é como uma luz-guia, uma sabedoria que não pode ser contestada por nenhum tipo de argumento emocional ou racional, eu chamo isso de “Minha Verdade.”
Essa luz-guia é algo que está presente em todos os Seres de Alma, é única e está constantemente irradiando. Quanto mais nos permitimos percebe-la, mais presente ela se fará em nossas vidas.
Foi essa sabedoria que me fez perceber como as experiências passadas não definem o meu presente e assim, segui em frente.
“Ah! Isso é bom!” disse para mim mesma, enquanto me sentava no grande tronco caído.
Tomei uma boa respiração profunda e olhei para o céu e para as árvores, sentindo o sol da manhã aquecer as minhas costas. Apreciar a natureza daquele ponto era muito melhor do que ficar de pé atrás da cerca.
Sentada ali eu podia ver os morros verdes, imponentes. Ao longe eu podia ver algumas vacas e bem perto de mim pequenas borboletas brancas voando ao redor de arbustos de flores silvestres.
A atmosfera mágica daquela manhã tranquila me envolvia e me impulsionava a avançar, se há alguns segundos eu não queria ter entrado, não importava.
Agora eu queria me aprofundar, me afastar
mais da segurança do já conhecido e continuar com as descobertas.
O sol quente às minhas costas já começava a me incomodar e eu avistava sombra entre as árvores à frente. Levantei-me do tronco - antes desconhecido, agora tedioso - e fui em busca de mais aventura.
Alguns pensamentos de cautela rondaram minha cabeça e eu observei a área ao meu redor. Ao meu lado esquerdo, perto das casas, havia uma casinha de cachorro. “hm, isso é claramente um sinal de perigo” eu disse para mim mesma, tentando convencer a aventureira a voltar atrás.
E então, os devaneios começaram:
“É lógico que eles tenham um cachorro! Visto que isso é um terreno onde eles criam vacas e não apareceu nenhum homem armado à cavalo para proteger o local, ao menos um cachorro eles hão de ter!”
“Mas qual será a raça do cachorro?”
“Será um cruel pitbull com mandíbulas mortíferas?”
“Qual será a sensação de uma mordida de cachorro? Será tão ruim assim?”
Naquele momento eu estava de pé entre os troncos caídos “o que me fornecia uma certa proteção caso houvesse mesmo um cachorro” minha faceta cautelosa não deixou de notar.
Porém, uma coisa estava certa dentro de mim: “eu vou em frente”.
Diante dessa certeza, não me importava nenhuma experiência anterior.
Diante dessa certeza, não me importava nenhum perigo futuro, como por exemplo ser mordida por um suposto cachorro.
Só me importava o que eu sabia, o que eu podia sentir.
Era minha luz-guia novamente dizendo-me “vai ficar tudo bem”.
E de fato, o que eu tenho a perder ao confiar absolutamente em mim mesma? No Ser Divino que Eu Sou?
Eu soube, naquele momento, que não se tratava apenas de uma aventura matinal num terreno desconhecido, não se tratava do cachorro ou da sombra entre as árvores.
Eu soube que essa experiência era somente mais uma linda metáfora que eu estava interpretando no magnífico teatro da vida.
Eu soube que era simplesmente sobre AHMYO.
Enquanto eu avançava para além dos troncos caídos e me permitia explorar mais daquele amplo terreno, eu entendi que essa voz que me dizia “confia” era simplesmente eu mesma.
Não se trata de confiar em uma voz exterior que fala comigo, algum “guia” ou “Deus” externo.
É simplesmente AHMYO, é simplesmente confiar em mim mesma, confiar na minha voz, confiar na minha sabedoria, confiar na minha certeza interior.
Entender isso - ou lembrar disso - me fez sentir tamanha liberdade!
Caminhei mais e mais por entre as árvores, comunicando-me com elas, tocando-as, sentindo-as.
Caminhei tranquila, deleitando-me com o canto dos pássaros e com a linda vista dos morros tão verdes e do céu tão azul!
Nem me dei conta e eu já estava novamente perto da cerca por onde eu havia entrado. Sentei-me num tronco e colhi uma florzinha silvestre, tomei uma respiração profunda em completa alegria e… “au-au!! au-au!”
Não é que havia mesmo um cachorro?
Mas não era um pitbull com mandíbulas mortíferas e nem chegou perto de mim.
Ele estava preso por uma corrente, porém seu latido já foi suficiente para anunciar o fim da minha aventura naquele dia.
Rapidamente, usando meu passe de mágica *plim* eu estava do outro lado da cerca, rindo muito comigo mesma e ansiosa para compartilhar a minha experiência!
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